Outra versão de uma história muito conhecida.
A fonte: LIEF, Fern. In: “Direitos Humanos no
Brasil, conferencia para educadores”. São Paulo, Editora Artes Gráficas. 1986.
Pode ser usado para trabalho com questões
relacionadas a interpretações, literatura, versões diferentes do mesmo fato,
novos olhares, pontos de vista, razão, etc.
O Lobo Caluniado
O Lobo Caluniado
A floresta era o meu lugar. Eu
morava lá e cuidava dela. Tentava mantê-la limpa e em ordem. Num dia
ensolarado, enquanto estava retirando o lixo que um campista havia deixado,
ouvi uns passos. Pulei atrás de uma árvore e vi uma menina meio feia descendo o
caminho e carregando uma cesta. Logo desconfiei dessa menina porque estava vestida
de uma maneira muito estranha: toda de vermelha e com a cabeça coberta de tal
forma que parecia não querer que alguém soubesse quem era. Claro que parei para
verificar quais eram suas intenções. Perguntei quem era, aonde ia, de onde
vinha. Ela me contou uma história mal contada, de que ia para casa da avó com
uma cesta de comida. Parecia ser uma pessoa honesta, mas acontece que ela
estava na minha floresta e, de fato, parecia meio suspeita com essa roupa
estranha que vestia. Então, resolvi lhe dar uma lição para mostrar como era
séria essa história de se pavonear pela floresta sem ser anunciada e vestida
dessa maneira.
Deixei-a seguir seu caminho, mas
logo corri na frente para chegar na casa de sua avó. Quando vi aquela senhora
simpática e lhe expliquei meu problema, ela concordou que sua neta precisava
aprender uma lição. Escondeu-se debaixo da cama, esperando que eu a chamasse
quando fosse necessário. Quando a menina chegou, eu a convidei para ir ao
quarto onde eu estava. Eu estava na cama, vestido como sua avó. A menina entrou
toda corada e disse alguma coisa malcriada sobre minhas grandes orelhas. Já
havia sido insultado antes, tentei então aproveitar suas palavras, sugerindo
que minhas grandes orelhas me ajudariam a ouvir melhor. O que eu quis dizer é
que gostava dela e queria dar maior atenção ao que ela dizia. Mas aí, ela fez
mais uma gozação, dizendo que meus olhos eram esbugalhados. Agora você pode
entender o que eu estava começando a sentir por aquela menina. Com essa fachada
tão bonita, ela escondia ser uma pessoa muito desagradável. Mas resolvi lhe
dizer que meus olhos grandes me ajudavam a vê-la melhor.
O insulto seguinte realmente me
atingiu. Eu tenho um problema com esses meus dentes muito grandes. E essa
menina fez uma malcriação a respeito deles. Sei que deveria me controlar, mas
pulei da cama e rosnei dizendo que meus dentes me ajudariam a comê-la melhor. Agora,
vejam bem, nenhum lobo comeria uma menininha, todo mundo sabe disso, mas essa
menina maluca começou a correr pela casa gritando e eu correndo atrás dela
tentando acalmá-la. Eu já tinha tirado a roupa da vovó, com a qual estava
vestido, mas isso parecia piorar as coisas. Até que, de repente, a porta se
abriu som um estrondo e um lenhador grandão estava lá de pé, com seu machado.
Eu o olhei e vi que estava em apuros. Havia uma janela aberta perto de mim e
pulei fora.
Gostaria de dizer que este foi o
fim da história. Mas acontece que aquela vovó nunca contou o meu lado da
história. Logo espalhou o boato de que eu era um lobo mesquinho o chato. Todo
mundo começou a se esquivar de mim. Não sei bem o que aconteceu com aquela
menina, mas eu não vivi feliz para sempre.
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